A primeira questão a debater é que voto nulo não significa ficar encima do muro, não significa ajudar o Serra, nem significa deixar de exercer um direito, enfim não é um “não voto”. O voto nulo é uma opção política. É uma escolha do cidadão ou da cidadã. É certo que existe o voto nulo daquele eleitor que não se interessa por política, que vai à urna sem saber o que está acontecendo, que não parou para analisar o que está em debate em determinada eleição e chegando lá anula de qualquer forma o seu voto. Também existe voto nulo de cidadãos interessados na política, mas os quais as candidaturas não conseguem convencer através dos programas eleitorais, dos debates e das propostas que apresentam. Estes votam nulo por não conseguirem vislumbrar um futuro promissor, capaz de fazê-los optar. Não estamos falando daquele eleitor que só foi votar porque o voto é obrigatório e nem deste que vai votar e vota nulo por não ter sido convencido. Nestas eleições o voto nulo que tanto se tem debatido nas mídias sociais e nos partidos políticos é um voto nulo consciente, pensado, definido e fundamentado. Portanto uma escolha política.
O Psol, através de sua Executiva Nacional, aprovou resolução admitindo como legítimos o voto crítico em Dilma e o voto nulo/branco.
Me incluo entre aqueles e aquelas que optaram pelo voto nulo. Para mim estão em disputa dois projetos cujos representantes nesse segundo turno vêm protagonizando cenas que aparentam grandes embates, mas que na essência não são diferentes. São dois projetos nocivos. O neoliberalismo representado por Serra destrói o estado, privatiza empresas públicas, terceiriza serviços públicos, reprime e criminaliza os movimentos sociais. O liberalismo social, representado por Lula/Dilma acaba com a esperança de mudança, com a autonomia das organizações populares, através de cooptação dos movimentos sociais em troca de pequenas concessões às suas reivindicações causando apatia, desmobilização e subalternidade.
As diferenças entre os dois projetos não são suficientes para merecer o meu voto e o voto de tantos outros lutadores e lutadoras do povo. Têm em comum alguns pontos fundamentais: a continuidade da construção da hidrelétrica de Belo Monte, a não auditoria da dívida pública, a manutenção de uma política econômica baseada nas altas taxas juros e no incentivo ao capital financeiro, a falta de compromisso com uma política verdadeira de reforma agrária, o envolvimento de seus governos em casos evidentes de corrupção, o recebimento deslavado de financiamento privado de campanha, o acordo de paz com o agronegócio, os banqueiros, os latifundiários. Dilma chegou ao cúmulo de declarar neste 2º turno que não é a favor das ocupações de terra, taxando-as de invasões. Trata-se de uma disputa dentro dos marcos do regime da falsa democracia do poder econômico e da corrupção, regime que as duas candidaturas defendem.
A falsa polarização levou os candidatos às raias de promessas e mais promessas. Ambos mentem desatinadamente.
Quero também registrar o meu entendimento de que, a resolução do Psol admitindo o voto nulo/branco e o voto crítico em Dilma taxada por setores do Psol e fora dele como contraditória, representa o acordo possível de ser construído internamente.
Nesse momento a tarefa principal é ultrapassar essa fase eleitoral, realizar um balanço aprofundado dos resultados obtidos pelo partido, intensificar o debate partidário com vistas à compreensão da realidade nacional, à maior inserção do partido nas lutas populares à organização da resistência e da oposição às mazelas que serão implantadas por qualquer um dos dois projetos que venha a governar o Brasil.
Ousar Lutar!
Ousar vencer!
À luta sempre!
Brice Bragato – candidata a governadora do ES em 2010
Presidente do Psol-ES